Segundo
Marcos T. Masetto, para os alunos aprenderem cada técnica deve ser escolhida em
função de cada situação. A escolha da tecnologia a ser utilizada deve ser
variada e adequada a esses objetivos. Não é utilizando uma ou duas técnicas
repetidas à exaustão dêem conta de incentivar e encaminhar toda a aprendizagem
esperada. A ênfase no processo de aprendizagem exige que se trabalhe com
técnicas que incentivem a participação dos alunos, a interação entre eles, a
pesquisa, o debate, o diálogo.
Conceitos de
Edgar Morin que podem ser considerados na mediação:
Deve-se
ter a preocupação que o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico,
cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente
desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível
aprender o que significa ser humano. È preciso restaurá-la, de modo que cada
um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo,
de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.
Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial
de todo o ensino.
O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo
externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções
cerebrais com base em estímulos ou sinais captados pelos sentidos. Daí
resultam, sabemos bem. Os inúmeros erros de percepção que nos vêm de nosso
sentido mais confiável, o da visão. Ao erro de percepção acrescenta-se o erro
intelectual.
Poder-se-ia crer na possibilidade de eliminar o risco de
erro, recalcando toda a afetividade. De fato o sentimento, a raiva, o amor, a
amizade podem nos cegar. Mas é preciso dizer que já no mundo mamífero e,
sobretudo, no mundo humano, o desenvolvimento da inteligência é inseparável do
mundo da afetividade, isto é da curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a
mola da pesquisa filosófica ou científica. A afetividade pode asfixiar o
conhecimento, mas pode também fortalecê-lo. Há estreita relação entre
inteligência e afetividade: a faculdade
de raciocinar pode ser diminuída, ou mesmo destruída, pelo déficit de emoção; o
enfraquecimento da capacidade de reagir emocionalmente pode mesmo estar na raiz
de comportamento irracionais.
Está na lógica organizadora de qualquer sistemas de idéias
resistir à informação que não lhe convém ou que não pode assimilar.
O paradigma efetua a seleção e a determinação da
conceptualização e das operações lógicas. Designa as categorias fundamentais da
inteligibilidade e opera o controle de seu emprego. Assim, os indivíduos
conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles.
O paradigma desempenha um papel ao mesmo tempo subterrâneo e
soberano em qualquer teoria, doutrina ou ideologia. O paradigma é inconsciente, mas irriga o pensamento
consciente, controla-o e, neste sentido, é também supraconsciente. Em resumo, o
paradigma instaura relações primordiais que constituem axiomas, determina
conceitos, comanda discursos e/ou teorias. Organiza a organização deles e gera
a geração ou a regeneração.
O poder imperativo e proibitivo conjunto dos paradigmas, das
crenças oficiais, das doutrinas reinantes e das verdades estabelecidas
determina os estereótipos cognitivos, as idéias recebidas sem exame, as crenças
estúpidas não-contestadas, os absurdos
triunfantes, a rejeição de evidências em nome da evidência, e faz reinar em
toda parte os conformismos cognitivos e intelectuais.
Entretanto, são as idéias que nos permitem conceber as
carências e os perigos da idéia. Daí resulta um paradoxo incontornável: devemos
manter uma luta crucial contra as idéias, mas somente podemos fazê-lo com a
ajuda de idéias. Não nos devemos esquecer jamais de manter nossas idéias em seu
papel mediador e impedir que se
identifiquem com o real. Devemos reconhecer como dignas de fé apenas as idéias
que comportem a idéia de que o real resiste à idéia. Esta é uma tarefa
indispensável na luta contra a ilusão.
Devemos civilizar nossas teorias, ou seja, desenvolver nova
geração de teorias abertas, racionais, críticas, reflexivas, autocríticas,
aptas a se auto-reformar.
Necessitamos que se cristalize e se enraíze um paradigma que
permita o conhecimento complexo.
O conhecimento das informações ou dos dados isolados é
insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para
que adquiram sentido.
Unidades complexas, como o ser humano ou a sociedade, são
multidimensionais: dessa forma, o ser humano é ao mesmo tempo biológico,
psíquico, social, afetivo e racional. A sociedade comporta as dimensões
histórica, econômica, sociológica, religiosa... O conhecimento pertinente deve
reconhecer esse caráter multidimensional e nele inserir estes dados: não apenas
não se poderia isolar uma parte do todo, mas as partes umas das outras.
O problema dos humanos é
beneficiar-se das técnicas, mas não
submeter se a elas.
O
humano é um ser a um só tempo plenamente biológico e plenamente cultural. O
homem é, portanto, um ser plenamente biológico, mas se não dispusesse
plenamente da cultura, seria um primata do mais baixo nível. A cultura acumula
em si o que é conservado, transmitido, aprendido, e comporta normas e
princípios de aquisição.
O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo. Dissemos
que todo ser humano, tal como ponto do holograma, traz em si o cosmo. Devemos
ver também que todo ser, mesmo aquele fechado na mais banal das vidas,
constitui ele próprio um cosmo. Traz em si multiplicidades interiores,
personalidades virtuais, uma infinidade de personagens quiméricos, uma
poliexistência no real e no imaginário, no sono e na vigília, na obediência e
na transgressão, no ostensivo e no secreto, balbucios embrionários em suas
cavidades e profundezas insondáveis. Cada qual contém em si galáxias de sonhos
e de fantasmas, impulsos de desejos e amores insatisfeitos, abismos de
desgraças, imensidões de indiferença gélida, queimações de astro em fogo,
acessos de ódio, desregramentos, lampejos de lucidez, tormentas dementes....
O conhecimento é a navegação em um oceano de incertezas, entre arquipélagos de certeza.
Na história, temos visto com
freqüência, infelizmente, que o possível se torna impossível e podemos
pressentir que as mais ricas possibilidades humanas permaneçam ainda
impossíveis de realizar. Mas vimos também que o inesperado torna-se possível e
se realiza; vimos com freqüência que o improvável se realiza mais do que o
provável; saibamos, então, esperar o inesperado e trabalhar pelo improvável.
Bibliografia
MASETTO, Marcos T. e outros. Mediação pedagógica e o
uso da tecnologia. In: Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas,
Papirus, 2000.
MORIN, Edgar. Os sete
saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez Editora, 2ª
edição, 2000.
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