Contam os historiadores da Filosofia que no frontispício do
templo de Apolo, em Delphos, estava escrito: “Conhece-te a ti mesmo”. Este foi
e continua sendo o ponto de partida todas as vezes que buscamos nos confrontar conosco
mesmos à procura da nossa identidade, ou seja, daquilo que nos torna únicos,
daquilo que nos faz ser que somos.
Milton Nascimento imortalizou essa busca nos versos de uma
linda canção: “Eu, caçador de mim”. Onde, porém, devemos começar essa “caça” de
nossa identidade? Será que devemos melhorar em nosso próprio interior e
perscrutar os abismos da alma? Creio, sinceramente, que não é preciso tanto. Há
outro meio mais simples e objetivo de realizarmos essa tarefa.
Jean Paul Sartre, o mais famoso filósofo francês do
pós-guerra, cunhou uma sentença lapidar a respeito desta questão: “o homem é
aquilo que ele faz”. Portanto, em vez de mergulhar nos abismos da alma, pense
um pouco em sua na sua vida, na sua trajetória, nos caminhos que você percorreu
para chegar até aqui. Procure lembrar-se de tudo o que foi mais importante,
mais significativo para a sua vida, aquilo que mais contribuiu para que você
seja o que é hoje.
Apenas para ajudar em seu itinerário, é interessante lembrar
uma das bases do paradigma do desenvolvimento humano, que pode ser resumida
assim: “Aquilo que uma pessoa se torna ao longo da vida depende
fundamentalmente de duas coisas: das oportunidades que teve e das escolhas que
fez”. De fato, se pensarmos bem, cada um de nós é fruto das oportunidades que
tivemos e das escolhas que fomos fazendo ao longo da vida. E algumas escolhas
são determinantes em nossa trajetória pessoal. Como a escolha daquela ou
daquele com quem vamos compartilhar nossa vida ou a escolha da profissão que
vamos seguir.
Fazer escolhas, tomar decisões, definir o rumo de nossa
própria existência, é o que faz o homem, no dizer de Erich Fromm, “o parteiro
de si mesmo”, isto é, as nossas decisões na vida e as ações delas decorrentes é
que nos fazem ser o que somos.
Muitas vezes, porém, quando a gente se debruça sobre este
tema e se faz estas indagações, temos a tendência de ficar procurando os
responsáveis pelo aquilo que aconteceu ou deixou de acontecer em nossas vidas.
É sempre mais fácil a gente responsabilizar alguma pessoa ou circunstância e,
assim, tirar a responsabilidade de cima de nossos ombros e colocá-las no de
outras pessoas. Esta é uma tentação muito freqüente, não só hoje, mas em todos
os tempos. Não é verdade?
É o mesmo Sartre, no entanto, que nos dá uma orientação precisa
a esse respeito, quando afirma: “O importante não é o que fizeram de nós, mas o
que nós próprios faremos com aquilo que fizeram de nós”. Quando a gente olha o
nosso passado, o nosso presente e as nossas opções futuras por esta ótica, as
coisas assumem outra forma e a vida parece nos dizer: Vai nessa! A bola é sua!
Assuma a condução do seu próprio destino! O melhor lugar é aqui. A melhor hora
é agora. Comece com aquilo que você já sabe, construa sobre aquilo que você já
tem. Não deixe passar a flor do mundo que, a cada manhã, desabrocha em nossas
vidas. Colha-a!
É muito importante que a gente se compreenda e se aceite
como realmente é. Sem isso, não podemos falar de identidade, que é a
continuação de nossa personalidade, daquilo que nos faz únicos e irrepetíveis,
no tempo. É a clareza a cerca de nossa identidade que nos permite mudar sem
deixar de ser a gente mesmo. Sem deixar de ser aquilo que se é.
É muito importante, professor ou professora, no início de
nossa caminhada ao longo do trajeto contido neste livro, que você pare um pouco
e pense em si mesmo como pessoa, como indivíduo, como ser humano que ocupa
lugar neste mundo. Alguém, que tem uma história de vida, alguém que, neste
momento, está confrontado com um conjunto de situações em sua existência e,
sobretudo, alguém que tem ideais, projetos, sonhos e esperanças.
Portanto, pare um pouco, e se pergunte: quem sou eu?
Responder claramente a esta pergunta é sempre um importante primeiro passo no
caminho de mudança em nossas vidas. E é por aí que pretendemos começar a
construção de um novo caminho na sua trajetória de educador. Não podemos mudar,
porém, a nossa atitude básica diante do nosso trabalho se, antes, não formos
capazes de mudar nossa atitude básica diante da vida. Por isso, decidimos
começar pelo começo de tudo, que é a sua relação consigo mesmo.
Extraído do Capítulo 1 do livro O Professor Como Educador, de
Antônio Carlos Gomes da Costa.
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