domingo, 6 de janeiro de 2013

Avaliação e a relação de poder



Texto de autoria de Ananda Lima, extraído da monografia de graduação (2003), sob a orientação da professora Marilde Queiroz, na Universidade do Estado da Bahia.
 
A relação de poder existente  nas escolas se dá facilmente porque há uma estrutura formal na organização educacional, como também há uma aprovação previa da sociedade na relação de autoridade  exercida pelo professor em relação ao aluno. Culturalmente, o professor por ter um conhecimento teórico e prático, tendo assim, um destaque à liderança, exerce facilmente a autoridade  sob o aluno. Este posicionamento do professor é uma atribuição dada a eles, enquanto docentes, pelos alunos. Furlani (1991: 36) enfatiza.

A autoridade que assim se exerce, ao invés de baseada na legalidade da posição do professor, decorre da sua legitimidade. Está ligada aos papeis inerentes ao exercício da docência e se expressa em situações nas quais a competência do professor o credencia como aquele que melhor poderá executar determinadas funções.


Assim sendo, esta postura educacional pode ser considerada democrática, tendo em vista o critério norteador deste processo ser o posicionamento de ambas as partes. Pois, entende-se que a autoridade do professor baseada na sua competência enquanto educador só ocorreu com  aceitação, quando este atende a necessidades mutuas.

Dentro deste contexto, pode haver uma diminuição  na desigualdade  entre professor e aluno em decorrência da estrutura escolar e social, contudo isso não modifica por completo esta situação, pois esta desigualdade é alimentada de diversas maneiras, sendo a avaliação uma delas.

É mais comum deparar-se com o professor autoritário devido a sua posição  e não a sua competência como mediador nos mais diversos segmentos. O professor autoritário por posição, o é devido a sua “superioridade” do cargo. Neste contexto, ele é caracterizado como informador (porque transmite conhecimento), controlador (controle da disciplina na sala de aula), classificador (a avaliação do que lhe convém), este tipo  de comportamento do professor busca na avaliação suporte para a manutenção do poder, conseqüentemente estará no exercício do autoritarismo em sala de aula.

A avaliação desta maneira,  passa a despertar nos alunos sentimentos de hostilidade, inferioridade e passividade. O professor, por sua vez, busca na avaliação a melhor maneira de manter o controle da classe, pois o professor ainda que não concorde com esta linha de trabalho, em muitas situações ver-se obrigado a participar, pois é representante direto da estrutura formal existente no âmbito educacional e até mesmo social.

O processo avaliativo ocorre nas escolas  de maneira fragmentada, propiciando à alguns alunos a anulação do seu saber e da aprendizagem ocorrida no ano letivo, quando estes têm que repetir o ano letivo por não ter alcançado a nota devida, postulada pelo sistema, como a nota mínima.  Em suma, a avaliação nas escolas tem como características medir o conhecimento do aluno, desconsiderando o seu saber, as suas limitações.

Neste contexto, a avaliação busca para si mais uma característica entre outras, que é a da exclusão. A partir do momento que ela está medindo o conhecimento de um aluno, estará classificando-o como inteligente ou não. Propiciando ao aluno a  sensação de inferioridade frente aos seus colegas. Salientando ainda que ao ser reprovado,  o aluno terá todo aquele período negado,  e será  que este aluno não contribuiu em nada durante o ano letivo referente à sua aprendizagem?
           
A maioria dos professores não conhece os seus alunos, a sua identidade, não  sabem das suas historias de vida e  suas dificuldades, restringindo-se apenas a medi-los quanto à aprendizagem. Ao ser reprovado o aluno não terá que simplesmente  refazer uma serie, mas recomeçar de novo, com  novos professores e colegas. A relação já conquistada com os antigos professores que possivelmente teriam mais facilidades em apontar as dificuldades e os avanços destes alunos, terá  que  ser interrompida para reiniciar com novos professores.

A avaliação neste sentido adquiriu a característica de manutenção do poder em sala de aula, pois a partir do momento em que ela esta medindo o conhecimento dos alunos, estará induzindo-os aos estudos, à corrida  na aquisição do conhecimento sem conscientização.
           
O processo avaliativo desta maneira é falho, tendo em vista que o professor não se insere neste processo, fica de fora, controlando, dando as coordenadas  do que fazer. Contribui neste sentido Lima (2002: 41).
Se o professor não toma a totalidade, certamente  isenta-se da avaliação , isto e, não se questiona se ele de fato ensinou, mas apenas se o aluno “ aprendeu “ ... Ora, isentando –se da avaliação, esta também excluído do processo ensino-aprendizagem, pois não e parte avaliada do processo.
           

Assim sendo, o professor não permite a avaliação sobre o seu trabalho, como também não discute os seus resultados, assumindo um caráter de poder em sala de aula, pois se coloca acima de todos, detentor do conhecimento inquestionável. O aluno fica com a responsabilidade do resultado, se obtiver nota satisfatória as normas existentes, significa que foi um ótimo aluno e que conseguiu aprender o que o professor lhe ensinou, se por acaso acontecer o contrario, significa que não foi inteligente o suficiente para atingir a media necessária. Dentro deste contexto, o professor dificilmente será questionado sobre a sua prática e se ela tem alguma influência no resultado das avaliações.
           
A relação professor-aluno neste sentido se da de maneira arbitraria, tendo o professor dado ao processo avaliativo um caráter  autoritário, negligenciando o processo de ensino aprendizagem quando se coloca distante do processo avaliativo.
           
Um outro ponto a ser observado no processo avaliativo se refere as prova. As suas questões geralmente são mal elaboradas, sem uma contextualização do assunto, levando os alunos a mera memorização dos assuntos, para poder responde-las.
           
A correção da prova é um outro momento de arbitrariedade, o professor “munido” com a caneta vermelha determina do seu ponto de vista o que é errado e o que esta certo.  Lima (2002: 44) contribui. “A escrita do professor, colocando a resposta “ supostamente  correta”, se faz sobre a resposta do aluno... Há, nes6te aspecto, um esmagamento do aluno e de suas respostas por uma verdade “ a priore” “ . Percebe-se que há uma invalidação do conhecimento do aluno, pois este só terá validade se estiver condizente com as normas educacionais.

A avaliação não só se dá de maneira fragmentada, como rápida também, dificultando o acompanhamento do professor com os alunos. Pois os professores deveriam detectar as dificuldades dos alunos e trabalhá-las. Por esta razão muitos professores dizem não ter tempo para fazer um acompanhamento adequado no processo de aprendizagem, trabalhando de maneira superficial e rápida.
           
Sendo assim, a  avaliação apresenta um caráter quantitativo, recaindo-se mais uma vez à questão da avaliação como instrumento de poder, pois quando ela passa ter um caráter quantitativo, ela estará de alguma maneira controlando e impondo algo, que conseqüentemente será  absorvido pelos os envolvidos (professores e alunos).
           
Isto ocorre em função   da organização escolar, ocorre de cima para baixo, distante da realidade e necessidades de todos, como também vem defender e legitimar interesses intrínsecos ao sistema educacional.
           
O professor precisa avaliar o seu aluno com mais critério, não é simplesmente  fazer testes  e provas, dando-lhes  uma média final, Hoffmann (1998: 31) afirma. “O olhar do professor precisa ser, assim, sensível ao tempo de cada educando,  de cada grupo de alunos, qualitativamente diferente de cada momento e promissor em seu inacabamento”.  O enfoque de Hoffmann elucida muito bem a necessidade do professor procurar acompanhar o seu aluno sem julgamento ou rotulações, mas com a intenção de mediar o conhecimento partindo das suas potencialidade, pois se faz  necessário que o professor valorize o conhecimento prévio do aluno.

2 comentários:

  1. Prima querida:

    Achei interessante suas considerações acerca de Avaliação e poder. Embora na educação superior a avaliação assuma outro caráter e outros aspectos, penso que seja procedente pontuar o seguinte:

    EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
    • O ângulo econômico

    Os alunos evadem porque lhes falta dinheiro?
    Por que devem trabalhar para viver?
    Por que seus pais não os ajudam suficientemente?
    Por que resistem mal aos apelos do consume?
    Por que desejam sua independência econômica sem demora?

    EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
    • O ângulo social

    Os alunos vivem em um ambiente de evadidos?
    A que grupos pertencem?
    Sao isolados?
    Seu ambiente familiar valoriza os estudos?
    Recusam o mundo da competição?

    EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
    O ângulo psicológico
    Como os evadidos e “fracassados” se percebem?
    Possuem uma imagem positiva de si mesmos? Experimentam um sentimento de fracasso?
    Com o que se identificam?
    O que valorizam?
    Encontram obstáculos intelectuais ou afetivos na aprendizagem escolar?

    EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
    O ângulo pedagógico
    Os conteúdos e os métodos de ensino são convenientes para os evadidos?
    São eles alunos que se aborrecem na escola, que prefeririam aprender de outro modo?
    Que relação estabelecem entre a formação escolar e o mundo do trabalho?

    EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
    O ângulo histórico
    Que vida escolar tiveram?
    Pode-se determinar em seu passado sinais anunciadores de evasão e fracasso?
    Existem na realidade escolar fatores que surgiram e poderiam explicar a evasão e fracasso?
    Evasão e fracasso escolar possuem características novas?...

    Baseado no livro “A construção do saber:
    Manual de Pesquisa em Ciências Humanas” de Laville & Dionne.

    Trabalho esses pontos com meus alunos graducao e eles passam a entender melhor o contexto do público das classes populares. bjs

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  2. Antônio querido,

    Muito relevante as suas pontuações, nos redimensionar para outros olhares acerca da avaliação, possibilita uma pesquisa de campo riquissima. O trabalho que realizei no passado foi uma pesquisa bibliográfica. Adorei a dica do livro.
    Abraços,
    Ananda

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