Texto de autoria de Ananda Lima, extraído da monografia de graduação (2003), sob a orientação da professora Marilde Queiroz, na Universidade do Estado da Bahia.
A relação de
poder existente nas escolas se dá
facilmente porque há uma estrutura formal na organização educacional, como
também há uma aprovação previa da sociedade na relação de autoridade exercida pelo professor em relação ao aluno.
Culturalmente, o professor por ter um conhecimento teórico e prático, tendo
assim, um destaque à liderança, exerce facilmente a autoridade sob o aluno. Este posicionamento do professor
é uma atribuição dada a eles, enquanto docentes, pelos alunos. Furlani (1991:
36) enfatiza.
A autoridade que assim se
exerce, ao invés de baseada na legalidade da posição do professor, decorre da
sua legitimidade. Está ligada aos papeis inerentes ao exercício da docência e
se expressa em situações nas quais a competência do professor o credencia como
aquele que melhor poderá executar determinadas funções.
Assim sendo, esta postura
educacional pode ser considerada democrática, tendo em vista o critério
norteador deste processo ser o posicionamento de ambas as partes. Pois,
entende-se que a autoridade do professor baseada na sua competência enquanto
educador só ocorreu com aceitação,
quando este atende a necessidades mutuas.
Dentro deste contexto, pode
haver uma diminuição na
desigualdade entre professor e aluno em
decorrência da estrutura escolar e social, contudo isso não modifica por
completo esta situação, pois esta desigualdade é alimentada de diversas
maneiras, sendo a avaliação uma delas.
É mais comum
deparar-se com o professor autoritário devido a sua posição e não a sua competência como mediador nos
mais diversos segmentos. O professor autoritário por posição, o é devido a sua
“superioridade” do cargo. Neste contexto, ele é caracterizado como informador
(porque transmite conhecimento), controlador (controle da disciplina na sala de
aula), classificador (a avaliação do que lhe convém), este tipo de comportamento do professor busca na
avaliação suporte para a manutenção do poder, conseqüentemente estará no
exercício do autoritarismo em sala de aula.
A avaliação
desta maneira, passa a despertar nos
alunos sentimentos de hostilidade, inferioridade e passividade. O professor,
por sua vez, busca na avaliação a melhor maneira de manter o controle da
classe, pois o professor ainda que não concorde com esta linha de trabalho, em
muitas situações ver-se obrigado a participar, pois é representante direto da
estrutura formal existente no âmbito educacional e até mesmo social.
O processo
avaliativo ocorre nas escolas de maneira
fragmentada, propiciando à alguns alunos a anulação do seu saber e da
aprendizagem ocorrida no ano letivo, quando estes têm que repetir o ano letivo
por não ter alcançado a nota devida, postulada pelo sistema, como a nota
mínima. Em suma, a avaliação nas escolas
tem como características medir o conhecimento do aluno, desconsiderando o seu
saber, as suas limitações.
Neste contexto,
a avaliação busca para si mais uma característica entre outras, que é a da
exclusão. A partir do momento que ela está medindo o conhecimento de um aluno,
estará classificando-o como inteligente ou não. Propiciando ao aluno a sensação de inferioridade frente aos seus
colegas. Salientando ainda que ao ser reprovado, o aluno terá todo aquele período negado, e será
que este aluno não contribuiu em nada durante o ano letivo referente à
sua aprendizagem?
A maioria dos
professores não conhece os seus alunos, a sua identidade, não sabem das suas historias de vida e suas dificuldades, restringindo-se apenas a
medi-los quanto à aprendizagem. Ao ser reprovado o aluno não terá que
simplesmente refazer uma serie, mas
recomeçar de novo, com novos professores
e colegas. A relação já conquistada com os antigos professores que
possivelmente teriam mais facilidades em apontar as dificuldades e os avanços
destes alunos, terá que ser interrompida para reiniciar com novos
professores.
A avaliação
neste sentido adquiriu a característica de manutenção do poder em sala de aula,
pois a partir do momento em que ela esta medindo o conhecimento dos alunos,
estará induzindo-os aos estudos, à corrida
na aquisição do conhecimento sem conscientização.
O processo
avaliativo desta maneira é falho, tendo em vista que o professor não se insere
neste processo, fica de fora, controlando, dando as coordenadas do que fazer. Contribui neste sentido Lima
(2002: 41).
Se o professor não toma a
totalidade, certamente isenta-se da
avaliação , isto e, não se questiona se ele de fato ensinou, mas apenas se o
aluno “ aprendeu “ ... Ora, isentando –se da avaliação, esta também excluído do
processo ensino-aprendizagem, pois não e parte avaliada do processo.
Assim sendo, o
professor não permite a avaliação sobre o seu trabalho, como também não discute
os seus resultados, assumindo um caráter de poder em sala de aula, pois se
coloca acima de todos, detentor do conhecimento inquestionável. O aluno fica
com a responsabilidade do resultado, se obtiver nota satisfatória as normas
existentes, significa que foi um ótimo aluno e que conseguiu aprender o que o
professor lhe ensinou, se por acaso acontecer o contrario, significa que não
foi inteligente o suficiente para atingir a media necessária. Dentro deste
contexto, o professor dificilmente será questionado sobre a sua prática e se
ela tem alguma influência no resultado das avaliações.
A relação
professor-aluno neste sentido se da de maneira arbitraria, tendo o professor
dado ao processo avaliativo um caráter
autoritário, negligenciando o processo de ensino aprendizagem quando se
coloca distante do processo avaliativo.
Um outro ponto a
ser observado no processo avaliativo se refere as prova. As suas questões geralmente
são mal elaboradas, sem uma contextualização do assunto, levando os alunos a
mera memorização dos assuntos, para poder responde-las.
A correção da
prova é um outro momento de arbitrariedade, o professor “munido” com a caneta
vermelha determina do seu ponto de vista o que é errado e o que esta
certo. Lima (2002: 44) contribui. “A
escrita do professor, colocando a resposta “ supostamente correta”, se faz sobre a resposta do aluno...
Há, nes6te aspecto, um esmagamento do aluno e de suas respostas por uma verdade
“ a priore” “ . Percebe-se que há uma invalidação do conhecimento do aluno,
pois este só terá validade se estiver condizente com as normas educacionais.
A avaliação não
só se dá de maneira fragmentada, como rápida também, dificultando o acompanhamento
do professor com os alunos. Pois os professores deveriam detectar as
dificuldades dos alunos e trabalhá-las. Por esta razão muitos professores dizem
não ter tempo para fazer um acompanhamento adequado no processo de
aprendizagem, trabalhando de maneira superficial e rápida.
Sendo assim,
a avaliação apresenta um caráter
quantitativo, recaindo-se mais uma vez à questão da avaliação como instrumento
de poder, pois quando ela passa ter um caráter quantitativo, ela estará de
alguma maneira controlando e impondo algo, que conseqüentemente será absorvido pelos os envolvidos (professores e
alunos).
Isto ocorre em
função da organização escolar, ocorre
de cima para baixo, distante da realidade e necessidades de todos, como também
vem defender e legitimar interesses intrínsecos ao sistema educacional.
O professor precisa avaliar o
seu aluno com mais critério, não é simplesmente
fazer testes e provas,
dando-lhes uma média final, Hoffmann
(1998: 31) afirma. “O olhar do professor precisa ser, assim, sensível ao
tempo de cada educando, de cada grupo de
alunos, qualitativamente diferente de cada momento e promissor em seu
inacabamento”. O enfoque de Hoffmann
elucida muito bem a necessidade do professor procurar acompanhar o seu aluno
sem julgamento ou rotulações, mas com a intenção de mediar o conhecimento
partindo das suas potencialidade, pois se faz
necessário que o professor valorize o conhecimento prévio do aluno.
Prima querida:
ResponderExcluirAchei interessante suas considerações acerca de Avaliação e poder. Embora na educação superior a avaliação assuma outro caráter e outros aspectos, penso que seja procedente pontuar o seguinte:
EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
• O ângulo econômico
Os alunos evadem porque lhes falta dinheiro?
Por que devem trabalhar para viver?
Por que seus pais não os ajudam suficientemente?
Por que resistem mal aos apelos do consume?
Por que desejam sua independência econômica sem demora?
EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
• O ângulo social
Os alunos vivem em um ambiente de evadidos?
A que grupos pertencem?
Sao isolados?
Seu ambiente familiar valoriza os estudos?
Recusam o mundo da competição?
EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
O ângulo psicológico
Como os evadidos e “fracassados” se percebem?
Possuem uma imagem positiva de si mesmos? Experimentam um sentimento de fracasso?
Com o que se identificam?
O que valorizam?
Encontram obstáculos intelectuais ou afetivos na aprendizagem escolar?
EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
O ângulo pedagógico
Os conteúdos e os métodos de ensino são convenientes para os evadidos?
São eles alunos que se aborrecem na escola, que prefeririam aprender de outro modo?
Que relação estabelecem entre a formação escolar e o mundo do trabalho?
EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR EM CINCO ÂNGULOS
O ângulo histórico
Que vida escolar tiveram?
Pode-se determinar em seu passado sinais anunciadores de evasão e fracasso?
Existem na realidade escolar fatores que surgiram e poderiam explicar a evasão e fracasso?
Evasão e fracasso escolar possuem características novas?...
Baseado no livro “A construção do saber:
Manual de Pesquisa em Ciências Humanas” de Laville & Dionne.
Trabalho esses pontos com meus alunos graducao e eles passam a entender melhor o contexto do público das classes populares. bjs
Antônio querido,
ResponderExcluirMuito relevante as suas pontuações, nos redimensionar para outros olhares acerca da avaliação, possibilita uma pesquisa de campo riquissima. O trabalho que realizei no passado foi uma pesquisa bibliográfica. Adorei a dica do livro.
Abraços,
Ananda