Texto de Ananda Lima, extraído do trabalho de especialização em Educação Infantil no ano de 2005, na UNEB.
A Educação
Infantil ao longo da história foi vista com descaso ou com um olhar piedoso e
assistencialista, passando despercebido o seu foco educativo. Com a LDB em
1996, esta adquiriu um maior respaldo na sua regularização junto aos
municípios. Paralelo a essa regulamentação, em vários pontos do Brasil surgiu
diversas propostas pedagógicas direcionadas à Educação Infantil. Porém,
cada um dando um enfoque diferenciado, distanciando-se das reais necessidades
das crianças nesta etapa da vida.
Assim sendo, o COEDI junto ao MEC buscou criar
um conjunto de referências e orientações que norteassem as propostas
pedagógicas para a Educação Infantil, como também subsidiassem o trabalho do
professor. Neste sentido, nasce o RCNEI – Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil, em 1998. Neste documento é possível encontrar informações
a respeito da concepção de criança, do educar e o cuidar, entre outros.
Entender as limitações e potencialidades das crianças, suas necessidades é
fundamental para se desenvolver um bom trabalho na Educação Infantil. Para
tanto, é imprescindível compreender o que é ser criança, como também o que é o
educar e o cuidar na Educação Infantil.
A criança é um ser social e histórico. Social porque está inserida numa
sociedade que tem regras éticas e morais, e histórica porque ela sofre
influências do meio e também interfere no mesmo.
Muitas crianças são vitimas das desigualdades sociais desde cedo. Pode-se
perceber esta questão nos preparativos para receber o novo bebê ou nos cuidados
do dia-a-dia. Há crianças que quando chega ao mundo têm um suporte familiar e
social à sua espera, que lhe acompanhará, provavelmente por toda vida.
Entretanto, há outras que logo cedo sentirá o peso da diferença social. Muitas
não terão acesso à escola, enquanto outras terão, algumas terão acesso à escola
de qualidade, quanto outras de qualidade duvidosa, onde são negligenciadas em
seu desenvolvimento e a sua condição de criança.
Neste contexto, percebe-se o quanto a formação do professor como sua postura
frente a estas crianças é importante. Pois, mesmo vivenciando as dificuldades
sociais existentes, este pode e deve trabalhar de maneira em sala de aula que
potencialize o pleno desenvolvimento da criança. Por outro lado, é interessante
salientar que nem sempre crianças que possuem famílias de poder aquisitivo
elevado terão o suporte familiar adequado ao seu desenvolvimento. Visto que
muitas famílias veem na Educação Infantil um local para brincar e encontrar
novos coleguinhas, e que a “tia” suprirá a ausência afetiva da mãe que
geralmente trabalha.
Neste sentido, nota-se uma dicotomia na visão das famílias em relação à escola
para seus filhos, enquanto famílias carentes olha a escola como suporte
assistencialista, que cuida dos filhos em sua ausência; as famílias mais
favorecidas vêem como um passa tempo. E nem sempre esta visão está restrita às
famílias, mas aos próprios profissionais que atuam em classes de Educação
Infantil.
Muitas vezes esta visão é devido à falta de formação específica e de formação
continuada. Estes profissionais não compreendem que o conhecimento da criança
ocorre quando esta interage com outras pessoas e com o meio em que vive, que
neste processo ela irá desenvolver diversas competências que a levará à
construção da identidade e autonomia. No entanto, se faz necessário que tanto a
família como a escola colabore para este desenvolvimento, pois não se pode
pensar a Educação Infantil separado da família, tendo em vista, esta ser a
primeira organização social à qual a criança é inserida.
Os profissionais da Educação Infantil precisam compreender o que é o educar e o
cuidar, e perceber que os dois são indissociados nesta etapa da educação.
Historicamente existe uma hierarquização entre o educar e o cuidar,
considerando que o educar é de responsabilidade do professor e o cuidar para
qualquer um, pois não há necessidade de uma formação para limpar ou dá comida à
criança.
Esta concepção precisa ser repensada, a educação da criança não é só de
responsabilidade do professor e em sala de aula, mas de toda a escola e seus
funcionários.
É no educar e o cuidar que há uma maior potencialização para o desenvolvimento
pleno da criança. Tanto o professor como os auxiliares precisam deslocar-se em
busca da compreensão das especificidades do educar e o cuidar para trabalhá-las
de maneira integradas e produtivas.
O educar deve esta inserido em qualquer ato na escola, seja no brincar ou no
momento de cuidar da higiene de uma criança. No RCNEI (1998:23) esta questão é
enfocada.
Educar significa, portanto propiciar
situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma
integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades
infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros...
Como conduzir no cotidiano escolar as atividades que respeite e contemple a
ação educativa e de cuidado de forma integrada requer dos profissionais
de toda a escola conhecimento e estudo periódico sobre a Educação Infantil, a
vista disso, faz-se necessário à presença do coordenador pedagógico, uma vez
que caberá a ele mediar e articular os conhecimentos e as ações pedagógicas
necessárias ao êxito do processo educacional.
A dissociação entre o educar e o cuidar é histórico, está condicionado à origem
de cada um e a concepção equivocada que se tem a respeito do desenvolvimento e
a aprendizagem da criança. Pensava-se que a criança era uma tábua rasa e que os
adultos é quem inseriam os conhecimentos nestas. Precisa-se romper com estas ideias
ultrapassadas, e buscar uma visão de criança que a respeite como sujeito de
direito que age e interage com o meio ambiente. Didonet (2003:07/abril/julho) afirma.
A LDB e o Plano Nacional de Educação
repisam a necessária junção e complementação do cuidar e do educar no
atendimento das crianças de 0 a 6 anos... porque existe uma dicotomia profunda
entre esses dois componentes na atenção que se dá à criança no Brasil.
Esta abordagem de Didonet (2003) mostra a discrepância que há na maneira
como as escolas abordam estes dois pontos e a preocupação da política
educacional em superar as diferenciações. Porém, o que existe na lei e o que se
faz na prática, ainda está distantes um do outro, sendo que em diversas
situações a própria lei se contradiz ou se torna ineficaz, quando não deixa
clara a responsabilidade de determinadas situações, ou a morosidade em
efetivá-las.
O ato de cuidar acompanha a criança desde o momento em que nasce até a fase
adulta. As pessoas que cuidam, estão mediando às relações das crianças com o
mundo. No ato de cuidar transmite-se a cultura, os costumes, crenças de um
povo, de uma época e sociedade. Viabiliza a interação com o mundo, sem esquecer
que a situação de cuidado também esta intimamente ligada à afetividade para a
criança. Neste sentido, nota-se a necessidade dos professores estarem
preparadas para lidar não apenas com o educar, mas com o cuidar também.
Conforme ROSSETI-FERREIRA (2003) o processo de cuidado e de ensino-aprendizagem
é muito mais afetivo e prazeroso quando há uma real sintonia entre quem cuida e
quem é cuidado... Assim, o professor precisa despir-se dos preconceitos
existentes em relação ao cuidado e perceber que cuidar faz parte do processo de
aprendizagem da criança, e que quem educa cuida, e quem cuida pode e deve
educar.
As famílias no mundo moderno, buscam na escola, não apenas a transmissão de
saberes e conteúdos curriculares, mas a parceria em conduzir situações de
aprendizagens, antes de responsabilidade das famílias, tendo em vista esta ser
a primeira instituição social à qual a criança é inserida. Estas situações de
aprendizagens estão relacionadas a situações como tomar o banho, comer, entre
outros. É interessante notar que ao lidar com situações como estas, o professor
estará levando à construção da identidade e autonomia das crianças. Para tanto,
ele precisa respeitar a criança em sua individualidade e ambos estarem em
sintonia um com o outro, criando uma relação de confiança e solidariedade com
as necessidades de cada um. O RCNEI (1998:24) enfatiza esta questão:
O desenvolvimento integral depende
tanto dos cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados
com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos
cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das
oportunidades de acesso a conhecimentos variados.
O educar e o
cuidar são indissociáveis, sendo que os dois potencializa o desenvolvimento das
capacidades, tornando a criança um ser atuante e integrante no meio em que
vive, aceitando a si mesmo e o outro com suas diferenças e semelhanças, este é
o papel da Educação Infantil.
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