terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Educar e o Cuidar na Educação Infantil


Texto de Ananda Lima, extraído do trabalho de especialização em Educação Infantil no ano de 2005, na UNEB.
 
           


A Educação Infantil ao longo da história foi vista com descaso ou com um olhar piedoso e assistencialista, passando despercebido o seu foco educativo. Com a LDB em 1996, esta adquiriu um maior respaldo na sua regularização junto aos municípios. Paralelo a essa regulamentação, em vários pontos do Brasil surgiu diversas propostas pedagógicas direcionadas à Educação Infantil. Porém, cada um dando um enfoque diferenciado, distanciando-se das reais necessidades das crianças nesta etapa da vida.

 Assim sendo, o COEDI junto ao MEC buscou criar um conjunto de referências e orientações que norteassem as propostas pedagógicas para a Educação Infantil, como também subsidiassem o trabalho do professor. Neste sentido, nasce o RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, em 1998. Neste documento é possível encontrar informações a respeito da concepção de criança, do educar e o cuidar, entre outros.

            Entender as limitações e potencialidades das crianças, suas necessidades é fundamental para se desenvolver um bom trabalho na Educação Infantil. Para tanto, é imprescindível compreender o que é ser criança, como também o que é o educar e o cuidar na Educação Infantil.

            A criança é um ser social e histórico. Social porque está inserida numa sociedade que tem regras éticas e morais, e histórica porque ela sofre influências do meio e também interfere no mesmo.

            Muitas crianças são vitimas das desigualdades sociais desde cedo. Pode-se perceber esta questão nos preparativos para receber o novo bebê ou nos cuidados do dia-a-dia. Há crianças que quando chega ao mundo têm um suporte familiar e social à sua espera, que lhe acompanhará, provavelmente por toda vida. Entretanto, há outras que logo cedo sentirá o peso da diferença social. Muitas não terão acesso à escola, enquanto outras terão, algumas terão acesso à escola de qualidade, quanto outras de qualidade duvidosa, onde são negligenciadas em seu desenvolvimento e a sua condição de criança.

            Neste contexto, percebe-se o quanto a formação do professor como sua postura frente a estas crianças é importante. Pois, mesmo vivenciando as dificuldades sociais existentes, este pode e deve trabalhar de maneira em sala de aula que potencialize o pleno desenvolvimento da criança. Por outro lado, é interessante salientar que nem sempre crianças que possuem famílias de poder aquisitivo elevado terão o suporte familiar adequado ao seu desenvolvimento. Visto que muitas famílias veem na Educação Infantil um local para brincar e encontrar novos coleguinhas, e que a “tia” suprirá a ausência afetiva da mãe que geralmente trabalha.

            Neste sentido, nota-se uma dicotomia na visão das famílias em relação à escola para seus filhos, enquanto famílias carentes olha a escola como suporte assistencialista, que cuida dos filhos em sua ausência; as famílias mais favorecidas vêem como um passa tempo. E nem sempre esta visão está restrita às famílias, mas aos próprios profissionais que atuam em classes de Educação Infantil.

            Muitas vezes esta visão é devido à falta de formação específica e de formação continuada. Estes profissionais não compreendem que o conhecimento da criança ocorre quando esta interage com outras pessoas e com o meio em que vive, que neste processo ela irá desenvolver diversas competências que a levará à construção da identidade e autonomia. No entanto, se faz necessário que tanto a família como a escola colabore para este desenvolvimento, pois não se pode pensar a Educação Infantil separado da família, tendo em vista, esta ser a primeira organização social à qual a criança é inserida.
            Os profissionais da Educação Infantil precisam compreender o que é o educar e o cuidar, e perceber que os dois são indissociados nesta etapa da educação. Historicamente existe uma hierarquização entre o educar e o cuidar, considerando que o educar é de responsabilidade do professor e o cuidar para qualquer um, pois não há necessidade de uma formação para limpar ou dá comida à criança.

            Esta concepção precisa ser repensada, a educação da criança não é só de responsabilidade do professor e em sala de aula, mas de toda a escola e seus funcionários.

            É no educar e o cuidar que há uma maior potencialização para o desenvolvimento  pleno da criança. Tanto o professor como os auxiliares precisam deslocar-se em busca da compreensão das especificidades do educar e o cuidar para trabalhá-las de maneira integradas e produtivas. 

            O educar deve esta inserido em qualquer ato na escola, seja no brincar ou no momento de cuidar da higiene de uma criança. No RCNEI (1998:23) esta questão é enfocada.

Educar significa, portanto propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros...

            Como conduzir no cotidiano escolar as atividades que respeite e contemple a ação educativa  e de cuidado de forma integrada requer dos profissionais de toda a escola conhecimento e estudo periódico sobre a Educação Infantil, a vista disso, faz-se necessário à presença do coordenador pedagógico, uma vez que caberá a ele mediar e articular os conhecimentos e as ações pedagógicas necessárias ao êxito do processo educacional.

            A dissociação entre o educar e o cuidar é histórico, está condicionado à origem de cada um e a concepção equivocada que se tem a respeito do desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Pensava-se que a criança era uma tábua rasa e que os adultos é quem inseriam os conhecimentos nestas. Precisa-se romper com estas ideias ultrapassadas, e buscar uma visão de criança que a respeite como sujeito de direito que age e interage com o meio ambiente.  Didonet (2003:07/abril/julho) afirma.

A LDB e o Plano Nacional de Educação repisam a necessária junção e complementação do cuidar e do educar no atendimento das crianças de 0 a 6 anos... porque existe uma dicotomia profunda entre esses dois componentes na atenção que se dá à criança no Brasil.

                Esta abordagem de Didonet (2003) mostra a discrepância que há na maneira como as escolas abordam estes dois pontos e a preocupação da política educacional em superar as diferenciações. Porém, o que existe na lei e o que se faz na prática, ainda está distantes um do outro, sendo que em diversas situações a própria lei se contradiz ou se torna ineficaz, quando não deixa clara a responsabilidade de determinadas situações, ou a morosidade em efetivá-las.

            O ato de cuidar acompanha a criança desde o momento em que nasce até a fase adulta. As pessoas que cuidam, estão mediando às relações das crianças com o mundo. No ato de cuidar transmite-se a cultura, os costumes, crenças de um povo, de uma época e sociedade. Viabiliza a interação com o mundo, sem esquecer que a situação de cuidado também esta intimamente ligada à afetividade para a criança. Neste sentido, nota-se a necessidade dos professores estarem preparadas para lidar não apenas com o educar, mas com o cuidar também.

            Conforme ROSSETI-FERREIRA (2003) o processo de cuidado e de ensino-aprendizagem é muito mais afetivo e prazeroso quando há uma real sintonia entre quem cuida e quem é cuidado... Assim, o professor precisa despir-se dos preconceitos existentes em relação ao cuidado e perceber que cuidar faz parte do processo de aprendizagem da criança, e que quem educa cuida, e quem cuida pode e deve educar.
            As famílias no mundo moderno, buscam na escola, não apenas a transmissão de saberes e conteúdos curriculares, mas a parceria em conduzir situações de aprendizagens, antes de responsabilidade das famílias, tendo em vista esta ser a primeira instituição social à qual a criança é inserida. Estas situações de aprendizagens estão relacionadas a situações como tomar o banho, comer, entre outros. É interessante notar que ao lidar com situações como estas, o professor estará levando à construção da identidade e autonomia das crianças. Para tanto, ele precisa respeitar a criança em sua individualidade e ambos estarem em sintonia um com o outro, criando uma relação de confiança e solidariedade com as necessidades de cada um. O RCNEI (1998:24) enfatiza esta questão:

O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.

O educar e o cuidar são indissociáveis, sendo que os dois potencializa o desenvolvimento das capacidades, tornando a criança um ser atuante e integrante no meio em que vive, aceitando a si mesmo e o outro com suas diferenças e semelhanças, este é o papel da Educação Infantil.

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