É importante, nas relações humanas e sociais,
refletir sobre o fundamental papel da linguagem para o desenvolvimento
da inteligência. Pertence a linguagem a um sistema simbólico dos
grupos humanos e certamente representa um salto qualitativo na evolução
da espécie. Ela fornece os conceitos, as formas de organização do real, a
mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela
que as funções mentais superiores são socialmente formadas e
culturalmente transmitidas.
A linguagem é a
maior criação da inteligência humana, pois é uma forma de acessar o
mundo e o pensamento, tornando possível compreender e apreender as
características dos fatos e objetos da realidade. Nós, seres humanos,
somos, ao mesmo tempo, falantes e linguagem, considerando a
linguagem uma criação humana, uma instituição sócio-cultural, que nos
faz seres sociais e culturais. E, tendo a linguagem uma função social,
ela é, antes de tudo, comunicação, expressão e compreensão. Essa função
comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A
comunicação é uma espécie de função básica, porque permite a interação
social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento, aguça a inteligência,
aprimora a forma e o modo de viver no mundo.
Para Vygotsky [psicólogo e educador russo], a aquisição da linguagem passa por três fases: a) A linguagem social, que tem a função de denominar e comunicar, e seria a primeira linguagem que surge; b) A linguagem egocêntrica,
ou seja, a progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o
processamento de perguntas e respostas dentro de nós mesmos – o que
estaria bem próximo ao pensamento, representa a transição da função
comunicativa para a função intelectual; c) A linguagem interior,
intimamente ligada ao pensamento, ao intelecto das pessoas. É nessa fase
que a linguagem aprimora, aperfeiçoa a inteligência humana.
Muitos
estudiosos se debruçam, até hoje, para melhor compreender o fenômeno da
linguagem. Mas a abordagem histórica desse estudo teve início no século
XVIII e o grande impulso ocorreu no Século XIX, constituindo-se, ao
longo dos anos, objeto de estudo de várias ciências, como por exemplo, a
Psicologia, a Filosofia, a Lingüística, entre outras. Porém, a
importância da linguagem aparece com maior ênfase no século XX, tanto
que alguns autores consideram como sendo impossível pensar sobre algo
sem pensar na linguagem, uma vez que desde então se evidencia a clara
convicção de que a palavra linguagem é o espaço da expressividade
do mundo. E no caso da Filosofia Contemporânea, volta-se,
principalmente para a significação ou para o sentido das expressões
lingüísticas, não priorizando, apenas, as questões relacionadas à
consciência ou à razão ou, ainda, à essência das coisas.
A
inteligência, para Piaget [psicólogo e filósofo suíço, conhecido pelo
seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Afirmou que
existe um processo de construção do conhecimento, e lançou a grande
questão: "Como podemos conhecer?".], é o mecanismo de adaptação
do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção
contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo
exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se
desenvolvem, intelectualmente, a partir de exercícios e estímulos
oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a
inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de
potencialidades e a linguagem é o meio e o fim desse aperfeiçoamento,
uma vez que a linguagem propicia o exercício contínuo e ininterrupto da
mente humana.
Para Piaget, o comportamento dos
seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o
comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo,
tudo permeado pela linguagem. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento, e logia
= estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do
indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada
com a complexidade desta interação das pessoas com o meio. Em outras
palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será a pessoa que utiliza a linguagem.
Conclui-se
o artigo dizendo que a linguagem, de acordo com o neurobiólogo
americano William Calvin, é "a característica definidora da inteligência
humana". Assim, com o devido respeito à capacidade de comunicação dos
golfinhos, chimpanzés, aves e abelhas, o Homo Sapiens é a única espécie
existente com o poder da fala. Essa é a capacidade que nos separa dos
outros animais, que nos torna humanos. O desenvolvimento da inteligência
humana está intimamente ligado ao desenvolvimento da linguagem. Tudo
que ela vivencia deve ser reproduzido nas formas de expressão verbal e
não verbal. É importante que ela “interprete” o mundo que a cerca e que
comunique esta “leitura” do mundo para as pessoas, no amplo sentido de
existência, de viver em comunidade.
http://luisalessa.blogspot.com.br/2010/05/o-papel-da-linguagem-no-desenvolvimento.html
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